D. José da Costa Nunes é considerado o filho maior da freguesia da Candelária, pois levou o nome desta a diferentes partes do mundo. Nasceu a 15 de março de 1880 e foi batizado a 19 do mesmo mês. Filho de José da Costa Nunes e de Francisca Felizarda Goulart, era o terceiro filho mais velho dos nove filhos do casal.
Esta figura ilustre pertencia a uma família onde o cristianismo era vivido de uma forma pura e autêntica, o que o poderá ter influenciado a seguir a vida eclesiástica. Assegurada a sua vocação, realiza o exame de admissão aos liceus, tendo ingressado no Seminário de Angra em 1893, onde prossegue os estudos, recebendo ao fim de oito anos a prima tonsura e as ordens menores. Como estudante sempre se distinguiu a nível intelectual e moral, sendo, por isso, convidado pelo Dr. João Paulino de Azevedo e Castro – quando este foi nomeado bispo de Macau –, para seu secretário particular. D. José da Costa Nunes chega então a Macau a 4 de junho de 1902. No ano seguinte conclui os estudos e obtém o presbiterado. Em junho de 1904 parte para as missões de Malaca e Singapura.
Na verdade, muitos anos mais tarde, o Cardeal confessa publicamente que, depois das primeiras resistências, apenas tinha acedido ir para Macau, com o propósito de ganhar experiência para depois regressar à Europa e ingressar na Universidade Gregoriana para aqui ser professor, propósito último da sua vontade. Ora, pensando ficar apenas dois anos em Macau, acaba por permanecer cerca de meio século.
[COSTA, Susana Goulart. D. José da Costa Nunes (1880-1976): um cardeal no Oriente. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, Centro de Estudos de História Religiosa, 2007-2008, p. 268]
Pensa-se que encarou o papel de missionário de tal forma que não conseguiu abandonar o Oriente, onde obteve uma rápida evolução na carreira sacerdotal e, em 1906, é nomeado Vigário Geral da Diocese de Macau. No ano seguinte, é nomeado Governador do Bispado. No início do regime republicano, D. José da Costa Nunes assume algum protagonismo, sendo eleito Vigário Capitular, em 1918. Dois anos depois tornou-se Bispo de Macau, sendo que é na matriz da cidade da Horta – ilha do Faial – que recebe a sagração episcopal, em 1921.
Regressa a Macau em 1922, onde vai dirigir esta diocese durante 18 anos. Findo este tempo, em 1940, é nomeado Arcebispo da Sé Metropolitana, Primacial e Patriarcal de Goa, assumindo o título de Primaz do Oriente e Patriarca de Índias Orientais.
O seu trabalho em prol da envangelização da Índia Portuguesa era imenso e de índole diversa e a educação assumia um claro protagonismo. Funda múltiplos colégios, escolas, seminários e instituições cristãs, como é o caso da “Congregação Missionária de São Francisco Xavier do Pilar de Goa”, fundada em 1942.
[COSTA, Susana Goulart. D. José da Costa Nunes (1880-1976): um cardeal no Oriente. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, Centro de Estudos de História Religiosa, 2007-2008, p. 275]
O seu empenho e dedicação é reconhecido ao mais alto nível, sendo em 1946 condecorado pelo Governo Português com a Grã-Cruz da Ordem do Império, demonstrando assim a sua importância como padroado. Em 1953, D. José da Costa Nunes volta a ver reconhecido o seu trabalho, com honras públicas, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo. Pouco depois é nomeado Arcebispo Titular de Odessa e Vice-Camarlengo da Santa Sé.
Ao fim de 50 anos de atividade pastoral no Oriente, renuncia ao cargo diocesano e vai viver para Roma. Aqui inicia o projeto que idealizou na sua juventude, não como professor, mas defendendo os interesses da fé, desempenhando funções na Cúria Papal durante 23 anos.
Durante a sua permanência no Oriente, D. José nunca esqueceu a sua freguesia, ajudando no seu desenvolvimento e crescimento. Embora longe, mostrou-se sempre um nostálgico dos seus Açores e da sua ilha. Numa coluna publicada no jornal O Telégrafo, em 1924, afirma de forma veemente «É que eu sou estruturalmente açoriano». Mas o seu amor à terra é comprovado pela sua obra maior na freguesia: o Patronato Infantil da Casa de São José, entregue às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, que foi o primeiro estabelecimento de educação pré-escolar da ilha do Pico e um dos primeiros dos Açores. Para tal doou a sua própria casa, com o objetivo de «perpetuar a memória de meus Saudosos Pais... e beneficiar o povo da Candelária, no meio do qual me orgulho de ter nascido». A Casa de S. José foi inaugurada pelo Cardeal a 30 de agosto de 1970.
Após a sua morte, o povo da Candelária, freguesia para onde seus restos mortais foram solenemente trasladados, para a capela da Igreja de Nossa Senhora das Candeias, continua a homenageá-lo. Mas a perpetuação do seu nome permanecerá na memória destas e de futuras gerações, de forma muito viva, com a atribuição do seu nome à escola básica e secundária do concelho da Madalena. Também a aquisição da casa onde nasceu, transformada num pequeno núcleo museológico e espaço multidisciplinar, contribuirá para eternizar o nome de José da Costa Nunes, um homem de origens humildes que se tornou Cardeal.